Thursday, February 20, 2020

Nem Freud Explica

Quem tem uma vida no esporte sabe algumas "verdades":

1 - É muito mais fácil ser campeão... do que se manter no topo por muito tempo.

2 - É muito mais fácil administrar um elenco reduzido, com posições definidas... do que um plantel estelar, com 2 craques para cada posição.

Dito isso...

reafirmo minha extrema gratidão à diretoria do Flamengo...

que soube dar ao clube uma dimensão estratosférica que envolve credibilidade, orgulho, resultados e solidez...

e retirar a estupenda Nação Rubro-Negra de um profundo estado depressivo.

Afirmo, também, que contratamos um Van Gogh, ou um Leonard Bernstein, como queiram, para comandar nossa comissão técnica. O Jorge Jesus é desses gênios pontuais, raros na história da humanidade.

Ressalto, ainda, que futebol não é uma ciência exata.

Somado todos esses fatores, vem a explicação por tanto sucesso no primeiro ano de trabalho de uma gestão que possui dirigentes diferenciados... liderados por um brilhante estadista, que se destaca num país tão carente de comandantes iluminados...

mesmo sem pré-temporada, sem reservas a altura... e com o técnico assumindo no meio do ano.

O projeto sempre foi para 2020.

Ontem, saí dividido do Estádio Atahualpa.

Muito orgulhoso com o desempenho dos meus heróis...

que superaram o fato de terem sido campeões no domingo... meio-dia, sol de 50 graus, no ar seco de Brasília... atuando de forma dominante os 90 minutos contra o bom time do Athlético Paranaense...

e estarem lutando por mais um título internacional na altitude de Quito, com frio intenso... contra um dos melhores times do continente.

Só que saí muito irritado com alguns torcedores que não conseguem subir de patamar.

Acompanho o Flamengo em todos os jogos (todos, mesmo!)... e faço um enorme estudo sociológico em vermelho e preto.

Escrevo para um blog denominado "Para Quem Entende de Flamengo" porque me dou autoridade para isso.

O Flamengo possui 42 milhões de apaixonados desequilibrados. A maioria absoluta é constituída por técnicos de Cartola FC.

Técnicos que não levam em consideração qualquer viés técnico, tático, psicológico... ou de treinamento.

Todos se acham acima de Jesus.

Se o Flamengo assumir, definitivamente, o Maracanã... aconselho substituir as cadeiras... por divãs.

Cada jogo é uma sessão de psicoterapia coletiva.

Ontem, sob um frio intenso... e com um número bem reduzido de torcedores (muitos fatores foram determinantes para isso)...

teve gente xingando Diego Ribas, Vitinho e... até, Jesus!

Sinceramente, quase me perdi.

Gratidão é sinônimo de caráter.

Como o Pai de Jesus sabe das coisas...

a entrada do Vitinho mudou o jogo.

O Independiente del Valle tem um dos melhores trabalhos mentais do mundo. Seu coach é de primeira linha.

Eles aproveitaram bem a altitude... e estudaram muito o Flamengo.

Eles marcaram a primeira linha de armação de ataque da nossa orquestra.

Isso causou uma inversão na história do jogo. Eles dominaram o primeiro tempo.

A entrada do Vitinho bagunçou o esquema equatoriano. O domínio mudou de lado.

Outra coisa...

eles demonstraram uma saída contra nossa linha alta que nunca tinha visto. A bola era cruzada dentro da sua própria área e verticalizada pelo lado contrário. Isso também nos causou sérios problemas.

É lógico que nosso malvado técnico favorito consertou tudo no intervalo.

Isso é futebol!

E amo muito tudo isso.

Respeito máximo aos torcedores apaixonados que gastam muito dinheiro para acompanhar nossa paixão.

Admiração total aos amigos que ficam aos berros nas telas do seus próprios celulares... criando páginas de YouTube, na caça de likes e seguidores ávidos por notícias rubro-negras.

Só não admito que um povo atire nos seus próprios soldados durante uma guerra.

A auto-estima é essencial para a produtividade. Nossos heróis, mais do que ninguém, merecem ser apoiados. Principalmente nas dificuldades.

Quem conseguir entender tudo isso... vai junto para 'outro patamar'.

Quem não... vai ter que buscar um bar... e depois procurar 'outro pra tomar'.


Texto: Guilherme Kroll


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